A presidente da Comissão do Comércio, Indústria, Minas e Energia da Assembleia Legislativa do Amapá, deputada Roseli Matos (DEM), pediu aos diretores da Jari Celulose para reavaliarem as condições contratuais com a empresa NDE. Segundo a parlamentar, os profissionais ligados a empresa estão sem receber os vencimentos. O atraso levou os trabalhadores a bloquearem ruas e até estradas. O manifesto impediu parte da população a acessarem até postos de saúde. “A Assembleia Legislativa é favorável ao desenvolvimento do Estado e precisamos das empresas para gerar emprego e renda, em todas as regiões, mas estamos do lado do trabalhador, ele precisa receber para honrar com os seus compromissos e até mesmo para cuidar do seu bem maior, a vida”, enfatizou Roseli.
O pedido foi recebido com surpresa pela direção. Jorge Henriques, acionista da Jari Celulose, admitiu a parlamentar sobre as dificuldades financeiras. Por outro lado, negou qualquer atraso com a NDE. “De todas as empresas contratadas pela Jari, a NDE é a única com todos os compromissos em dia”, assegurou. O problema chegou ao Parlamento Estadual por meio dos vereadores das cidades de Vitória e Laranjal do Jari, sul do Amapá. A situação abriu espaço para outra questão: o aproveitamento da mão de obra local. A cobrança é em razão da Jari Celulose ser a maior empresa instada na região.
O encontro, realizado na quinta-feira (16) dentro das estruturas da Jari Celulose, foi acompanhado pela representante do Vale do Jari na Assembleia Legislativa, deputada Raimunda Beirão (PSDB), juntamente com os vereadores dos dois municípios. Segundo Jorge Henriques, a fábrica retomou as atividades em março. O saldo da retomada foi o primeiro embarque de celulose solúvel (usada para a produção de tecidos) ao continente asiático, após dois anos de inatividade.
O embarque de 12 mil toneladas de celulose feito em março, é o início da nova etapa de produção da empresa, troca o papel pelo tecido, por meio do processo da celulose solúvel, considerado mais limpo e puro. A mudança é associada ao comportamento do mercado. O produto tem mais peso. A tonelada tem custo médio de U$ 800, contra os U$ 750 do papel “Investimos em nova matéria prima, mas ainda continuaremos com a exploração do papel, nós apenas deixamos de ser refém de um único produto”, explicou Jorge Henriques.
A opção pelo novo produto custou alguns bens a empresa. A Jari vendeu fábricas no Sul, Sudeste e até na região Norte para investir na celulose solúvel. Para fazer a mudança de equipamentos, contratou a Jaraguá. Mas o trabalho foi interrompido e somou mais prejuízos a Jari. A Jaraguá está entre as empresas investigadas pela Polícia Federal na “Operação Lava Jata”, no esquema de corrupção da Petrobrás. A interrupção retardou a retomada dos trabalhos. Para voltar a produzir, a empresa contratou 3,5mil profissionais, sendo 800 diretos e 2,7mil indiretos por meio de empresas terceirizadas. No primeiro mês de produção, mandou para a Ásia 12mil toneladas de celulose. Para o mês de abril, a previsão é mandar 16 mil toneladas para a China.
A estimativa de produção até dezembro é de 300mil toneladas. Apesar dos números positivos, a direção admite dificuldades em honrar todos os compromissos com os credores. Pela previsão dos acionistas, toda a dívida acumulada pela empresa nesses últimos anos só deve ser quitada em oito anos. Jorge Henrique foi enfático ao pontuar os itens considerados por ele, os responsáveis pela crise instalada na Jari Celulose e até pela suspensão das atividades. Dívidas, tecnologia ultrapassada, crise no mercado internacional e ausência do Poder público. O acionista considerou a tecnologia antes utilizada pela Jari celulose de ‘obsoleta’ e sem condições de brigar com as grandes empresas no mercado.
Sem espaço e com a produção cada vez menor, a Jari Celulose mergulhou em uma crise profunda. Aos poucos o quadro era reduzido e a divulgação de demissões em massa. Dois anos depois, a empresa retoma as atividades, mas ainda com problemas financeiros. Os acionistas se queixam, principalmente, da ausência do Poder Público. Segundo Jorge Henriques a empresa tem apenas deveres. “Cabe a nós fazer manutenção de ramais e estradas, de trocar transformadores, manter o hospital e até o aeroporto sem receber qualquer recurso dos governos estadual e municipal e a conta recai aos acionistas”, reclamou.
“As contas estão pesadas, o Estado e os municípios precisam ajudar, temos interesse em aumentar a nossa produção e ao mesmo tempo em absorver mais profissionais, mas precisamos da compreensão do Poder público, sem a devida ajuda do órgão público teremos dificuldades em caminhar para frente”, alertou.
O alerta é por conta da dificuldade encontrada pela empresa para se interligar ao linhão de Tucuruí. “Estamos com dificuldades em concretizar o processo, esbarramos em burocracias as quais só o Poder Público pode resolver e se conseguirmos encontrar solução para este problema, daremos um passo muito grande para avançarmos na produção”, contou.
Para a deputada Roseli Matos as colocações feitas pelos acionistas da Jari Celulose foram importantes. Conforme a parlamentar, a manutenção da empresa na região do Vale do Jari é importante. O Estado do Amapá precisa avaliar como pode ajudar, assim como o governo do Pará. “Iremos voltar à região em outro momento, mas deixamos o Vale do Jari com as reivindicações de todos os lados, sindicato, trabalhadores e empresa, iremos apresentar aos deputados e ao governador Waldez Góes e buscar alternativas onde todos possam ser beneficiados”, garantiu.
Assembleia Legislativa do Estado do Amapá – ALAP
Departamento de Comunicação – DECOM
Diretor do Decom – Cleber Barbosa
Emerson Renon – Assessor de Comunicação
Fotos – Gerson Barbosa
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